Palestra de Claudionor A.Santa Rosa no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.
Prefeitura
Municipal de São Paulo
Hospital do
Servidor Público Municipal de São Paulo
Comissão
Interna do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo
Semana Interna do Meio Ambiente
Semana Interna do Meio Ambiente
Palestra:
Águas do sistema Cantareira: vivas ou
mortas
Prof. Claudionor A. Santa Rosa
São Paulo-SP
05/Junho/2014
Reservatórios de água
no Planeta
Para darmos inicio à palestra,
primeiro vamos analisar a quantidade estatística de água na Terra.
Da quantidade de água existente
em todo o planeta, 97,3% estão nos mares e oceanos (água salgada) e 2,7% em
rios, lagos, geleiras etc. (água doce).
Da distribuição de água doce no planeta, 0,5%
encontram-se nos lagos, pântanos, rios e atmosfera; 22,4% se encontram abaixo
da superfície terrestre, são as chamadas águas subterrâneas; e 77,2% são águas formadas
por geleiras.
Água
Doce no Brasil
Da reserva de água doce no
planeta, cerca de 13,7% estão no Brasil. Outros países (mais de 180 em todo o
mundo), possuem 86,3%.
Das águas brasileiras, cerca de 80% estão nos rios
da Amazônia e 1,6% no estado de São Paulo, que abriga 22% da população
brasileira. Portanto, 26
estados brasileiros, que abrigam 78% da população, possuem 98,4% das águas no
Brasil.
Água no Estado de São Paulo
O Estado de São Paulo possui 645
municípios, com cerca de 40 milhões de habitantes e com área de 248.809 km2.
A Região Metropolitana de São
Paulo é composta por 39 municípios, com cerca de 20 milhões de habitantes. Esta
Região possui 4% das águas paulistas, contra 86% nos demais municípios do
Estado.
Para se ter uma idéia, a
quantidade de água na RMSP não é suficiente para toda sua população. Para
compensar essa falta d’água, mais de 40% da água consumida na RMSP é
proveniente do sistema Cantareira, pertencente à bacia dos rios Piracicaba,
Capivari e Jundiaí. Portanto, a
RMSP com 95% de sua área na bacia do Alto Tietê encontra-se em stress hídrico.
Portanto, comparando a
quantidade de água e o número de habitantes na RMSP ao Estado de São Paulo e ao
restante do país, podemos concluir que:
“Onde tem muita água
tem pouca gente,
onde tem pouca água
tem
muita gente !!”
O Ciclo Hidrológico
A
água na natureza circula continuamente, sempre em fluxo por meio de evaporação,
precipitação, escoamento superficial e escoamento subterrâneo. Este movimento
contínuo é chamado de ciclo hidrológico, que é acionado pelo calor da energia
do Sol, o que contribui para que adquira ou perca impureza, sejam físicas,
químicas ou biológicas.
Quando
ocorrem as chuvas, as águas ao cair sobre o solo escoam superficialmente até os
rios. Porém, durante o período de estiagem, as águas que abastecem os rios, são
as águas que penetram no solo durante o período de chuvas, abastecendo o lençol
freático, é o chamado escoamento subterrâneo.
A
cada ano que a estiagem acentua, o lençol freático recebe menos água, o que
provoca a queda de seu nível, diminuindo o abastecimento em períodos de seca, o
que pode provocar escassez de água em determinadas épocas.
Da
quantidade total de água precipitada, 77% caem sobre os oceanos e 23% sobre os
continentes. Por outro lado, 84% da evaporação total da Terra provêm dos
oceanos e os continentes contribuem com apenas 16%.
Portanto,
este ciclo pode explicar o motivo pelo qual não se pode dizer que a água está a
acabar, mas as reservas disponíveis são, de fato, limitadas. Dividir 1000
litros de água para 10 pessoas, o resultado não é o mesmo ao se dividir este mesmo
volume para 100 pessoas. A quantidade de água é a mesma, o que se tem é uma
fração menor dessa água à medida que cresce a população, tornando a água
escassa devido à fração cada vez menor. Outro fator é a poluição das águas que
pode torná-las impróprias para tratamento, diminuindo cada vez mais as reservas
disponíveis.
Porque
tratar a água?
As
águas para consumo humano necessitam de ser tratadas, uma vez que podem estar
poluídas ou contaminadas. São múltiplas as fontes de poluição e contaminação
das águas superficiais.
A
água está contaminada quando são impróprias para consumo, sendo por seres
humanos, animais ou mesmos vegetais. A contaminação pode ser contaminada por
processos naturais ou antropogênicas e, a poluição, é quando ocorre mudança nas
propriedades físicas, químicas ou biológicas da água, sempre por ação do
homem.
Fontes
de poluição e contaminação das águas
As
fontes de contaminação podem ser naturais ou antropogênicas. Quando se fala em
poluição, sempre vamos nos reportar às fontes antropogênicas.
Atividades
vulcânicas: As
fontes naturais de contaminação podem ser por atividades vulcânicas que lançam diversos
tipos de gases e particulados na atmosfera. Parte dos particulados chega ao
solo pela ação da gravidade e, os que permanecem na atmosfera, assim como os
gases, são carreados pela precipitação para o solo. Parte da água precipitada escoa
sobre a superfície da Terra e parte infiltra no solo até atingir e abastecer o
lençol freático. As águas atingem os rios por escoamento superficial e por
escoamento subterrâneo.
Sedimentos/assoreamentos: por
ação gravitacional, ação das águas de chuvas e dos ventos, o que vai dar origem
à erosão, formando sedimentos que podem chegar aos rios e lagos, o que vai provocar
o assoreamento dos corpos d’água.
Queimadas naturais: por
queimadas naturais, são lançados na atmosfera vários tipos de gases e
particulados, cujo carreamento por precipitação e consequente contaminação das
águas é semelhante ao processo por atividades vulcânicas.
Quando
as propriedades físicas, químicas e biológicas das águas são alteradas por
ações antropogênicas, chamamos de poluição. Esse processo também pode
contaminar a água.
Poluição térmica: a
poluição das águas superficiais tem como uma das fontes as indústrias que
utilizam água para refrigeração de reatores e, ao não resfriar as águas, às lançam
nos corpos d’água modificando suas propriedades físicas, químicas e biológicas.
Com o aumento da temperatura das águas, há a diminuição dos níveis de oxigênio,
o que pode provocar mortandade da fauna aquática, assim como o aumento das
reações bioquímicas, o que pode potencializar substâncias tóxicas e ainda
propiciar o desenvolvimento de microrganismos patogênicos. Deve-se também destacar
a sensibilidade da fauna e flora quanto às mudanças bruscas de temperatura, pois
pode gerar mudança na reprodução e mesmo na perda de espécies.
Acidificação das águas: águas
acidificadas são provenientes de indústrias, cujo processo industrial, há
produção de ácidos, os quais lançados nas águas às tornam acidas. Águas ácidas
ocasionam maiores reações químicas potencializando formação de produtos
tóxicos. Outra forma de acidificação das águas é por precipitação. A
acidificação das águas das chuvas está associado principalmente à presença na
atmosfera de substâncias à base de nitrogênio e enxofre, como os NOx
e o SO2 de origem dos processos de combustão de combustíveis
fosseis, ao formar o ácido nitroso e sulfúrico. Chuvas ácidas também provocam a
deterioração do solo e da vegetação, das edificações e monumentos históricos à
base, principalmente de mármore, como ocorreu na Europa nos anos de 1970.
Poluição biológica: efluentes
industriais enriquecidos com agentes biológicos como vírus, bactérias,
protozoários, fungos e outros potencializa a contaminação biológica nas águas,
o que pode provocar o surgimento de doenças de quem às consome sem o devido
tratamento.
Metais pesados: efluentes
industriais e até mesmo domésticos podem conter metais pesados, provenientes de
pilhas e baterias e processos industriais que levam esses componentes;
Medicamentos: efluentes
domésticos podem conter a presença de medicamentos, como antiinflamatórios e
anticoncepcionais que persistem nas águas, o que modificam suas propriedades químicas,
o que potencializa a contaminação química.
Agrotóxicos: os
pesticidas ou agrotóxicos, em sua maioria com componentes cancerígenos, são
pulverização em culturas. A precipitação carrea parte dos agrotóxicos para o
lençol freático por escoamento subterrâneo ou mesmo superficial para os corpos d’água, contaminando-os.
Eutrofização: a
eutrofização é devido a fertilizantes ou adubos com nutrientes NPK (nitrogênio,
fósforo e potássio) utilizados em culturas que, ao alcançam os corpos d’água,
estes são enriquecidos com os nutrientes. As plantas aquáticas, como algas e
macrófitas, aumentam a população ao consumir o excesso de nutrientes, o que
pode levar à degradação ambiental de todo o corpo d’água.
Radiação: efluentes
que entraram em contato com produtos radioativos utilizados em hospitais e
clínicas, descartados incorretamente no sistema de coleta de esgoto ou em rios,
podem contaminar as águas.
Chorume: o chorume
proveniente da lixiviação dos lixões e aterros sanitários, contendo uma gama de
metais pesados e microrganismos e outras substâncias, contaminando o solo e,
por percolação subterrânea, podem atingir o lençol freático e, mais tarde,
chegando aos rios.
Matéria orgânica: efluentes
domésticos provenientes de nossas residências e mesmo industrial que contenham
matéria orgânica, podem mudar as propriedades químicas, físicas e biológicas das
águas sob ação de microrganismos aeróbios e até mesmo anaeróbios. Os
microrganismos aeróbios utilizam o oxigênio livre nas águas para seu
metabolismo e, os microrganismos anaeróbios, utilizam o oxigênio molecular ao
quebrar as moléculas da matéria orgânica.
Óleos e compostos orgânicos
voláteis (VOC’s): VOC’s são provenientes de óleos vegetais e
hidrocarbonetos (petróleo) chegam às águas, quando estes sedimentam ou são
carreados por precipitação e atingem o solo e, por escoamento superficial e
subterrâneo, chegam até os rios, modificando suas propriedades químicas.
Movimentos de terra
induzidos: os movimentos de terra induzidos (terraplanagem) podem
chegar aos corpos d’água por ação da gravidade, ventos e chuvas etc. mudando as
propriedades físicas das águas e assoreamentos os corpos d’água.
Porque
tratar a água?
A
poluição e a contaminação das águas são as principais causas da incidência de
enfermidades, o que obriga o tratamento das águas para torná-las potáveis.
O
tratamento da água deve ser direcionado, em especial, para as populações de
baixa renda não atendidas pelos sistemas de abastecimento de água potável e de
coleta e disposição de esgotos sanitários.
É a parte da população com maior índice de doenças
de veiculação hídrica, pois causam o maior número de internações hospitalares e
nomeiam grande parte dos índices de mortalidade infantil.
Exemplos
de doenças veiculadas com a água
Por
ingestão de água contaminada:
· Cólera;
· Disenteria
amebiana;
· Disenteria
bacilar;
· Febre
tifóide e paratifóide;
· Gastroenterite;
· Giardise;
· Hepatite
infecciosa;
· Leptospirose;
· Paralisia
infantil;
· Salmonelose
Por
contato com água contaminada:
· Escabiose
(doença parasitária cutânea conhecida como Sarna);
· Tracoma
(mais frequente nas zonas rurais);
· Verminoses,
tendo a água como um estágio do ciclo;
· Esquistossomose.
A mortalidade Infantil na
RMSP
Podemos
observar na Figura 1 o gráfico “Mortalidade Infantil X Abastecimento de Água e
Esgotamento Sanitário na RMSP (1980 a 2004)”.
Figura 1 – Mortalidade Infantil X Abastecimento de
Água e Esgotamento Sanitário na RMSP (1980 a 2004). Fonte:
SABESP (2006)
A
linha azul é a porcentagem de domicílios na RMSP que possuem abastecimento de
água tratada.
A
linha verde é a porcentagem de esgotamento sanitário. Esgotamento sanitário não
é tratamento de esgoto, e sim, retirada do esgoto da porta dos moradores por
coletores de esgoto.
A
linha vermelha é o número de obtidos/1000 nascidos vivos (mortalidade
infantil).
Somente
com o esgotamento sanitário, de 50,6 óbitos/1000 nascidos vivos em 1980, a RMSP
passou para 14,2 óbitos/1000 nascidos vivos em 2004 e, levantamento mais recente,
passou em 2011 para 11,9 óbitos/1000 nascidos vivos.
Se
analisarmos o número de óbitos/1000 nascidos vivos recentes, apresentam que os óbitos,
em sua maioria, não são por doenças de veiculação hídricas e sim outros
fatores, tais como: período perinatal, más formações congênitas, problemas no aparelho
respiratório dentre outros.
Isso
rompe o circulo vicioso de doenças
veiculadas pela falta de saneamento e é uma influencia positiva na qualidade de vida da população em relação ao
fornecimento de água potável.
Potabilidade da Água
A água é considerada potável quando isenta de microrganismos patogênicos
transmissores de doenças e de substâncias tóxicas que afetam a saúde humana.
Sistema
Metropolitano de Água
Observando a Figura 2 podemos observar:
·
O Sistema
Cantareira abastece 47,4% da população da RMSP;
·
O Sistema
Guarapiranga 21,4%;
·
O Sistema Alto
Tietê 14,8%;
·
O Sistema Rio
Grande 7,5%;
·
O Sistema Rio Claro
5,9%;
·
O Sistema Alto
Cotia 1,4%;
·
O Sistema Baixo
Cotia 1,4%; e
·
O Sistema Ribeirão
da Estiva 0,2%.
Figura 2 – Sistema Metropolitano de abastecimento de
Água na RMSP. Fonte SABESP (2013)
O Sistema Cantareira
O sistema Cantareira faz
parte da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, ao norte da Bacia do
Alto Tietê (Figura 3).
Figura 3 – Localização do Sistema Cantareira. Fonte: CIESP e FIESP (2014)
Mais de 40% da água consumida na RMSP (quase 9 milhões de pessoas) é
originada do Sistema Cantareira. Portanto, a RMSP não possui mananciais suficientes
para abastecer sua população.
Abastecimento de água na RMSP
Observando a figura 4 temos:
O sistema Cantareira trata 33 m3/s de água;
O sistema Alto Tietê trata de 10 a 15 m3/s;
O sistema rio Claro trata 4 m3/s;
O sistema Billings/Rio Grande trata 4,5 m3/s
O sistema Guarapiranga trata 14 m3/s; e
O sistema Alto e Baixo Cotia 2,1 m3/s.
Figura 4 – Abastecimento de água na RMSP. Fonte: CIESP e FIESP (2014)
A água bruta de melhor
qualidade na RMSP é do Alto Cotia. Trata-se de área preservada por Lei
estadual, formando a Reserva Florestal do Morro Grande, enquanto que, a água
bruta de pior qualidade é do Baixo Cotia.
A água do Alto Cotia
recebe quantidade menor de cloro (em torno de 2 mgCl/litro) e produtos químicos
para o tratamento de sua água, Agora, o Baixo Cotia, já recebe bem mais cloro (mais
de 30 mgCl/litro) para destruir os microrganismos patogênicos, sem contar a
alta quantidade de produtos químicos para clarificar a água.
Isto porque, as águas do Baixo Cotia, quando recalcadas para tratamento,
percorreram mais de 30 quilômetros por bairros e cidades recebendo efluentes
domésticos, industriais e resíduos (lixo).
O sistema Cantareira hoje
As imagens da Figura 5 apresentam o sistema Cantareira em dezembro de
2013 e em janeiro de 2014. Observa-se a diferença de nível de água entre as
duas datas através da vegetação em seu entorno.
Figura 5 – Comparação do nível de água do sistema
Cantareira (dez/2013 e jan/2014). Fonte: Fonte: SABESP (2014)
Rio Piracicaba – região de Campinas
A figura 6 apresenta o rio Piracicaba na região de
Campinas em fevereiro de 2014 e em fevereiro de 2012. Nota-se a diferença do
volume de água.
Figura 6 – O rio Piracicaba e os níveis de água em fev/2012
e fev/2014. Fonte: Awen Consultoria e treinamento (2014)
O rio está sofrendo com a estiagem, inclusive o sistema de abastecimento
de toda a região.
O volume do sistema Cantareira ao longo dos últimos 5 anos
Na Figura 7 é apresentado
o volume do Cantareira no dia 09 de março entre os anos de 2009 a 2014. Portanto,
no final do verão dos últimos 5 anos.
Figura 7 – Volume do Cantareira (no dia 09 de março
de 2009 a 2014). Fonte: Metro (2014)
Desde o ano de 2010 o
nível do sistema Cantareira vinha caindo. Portanto, qualquer pessoa ou técnico
observando o gráfico veria que está se anunciando um colapso no sistema. É por
causa dessa análise que, em meados de dezembro de 2013, quando o nível do
Cantareira atingiu cerca de 30% de seu volume, já deveria ter adotado o rodízio
em toda a RMSP.
A não adoção do rodízio provocou uma diminuição do volume útil do
Cantareira para 7,6% (74 milhões de m3) em 20/05/2014 (Figura 8).
Figura 8 – Evolução do volume útil do sistema
Cantareira em 2014 (01/01/2014 a 01/05/2014). Fonte: CIESP e FIESP
(2014)
O volume morto do
Sistema Cantareira
O que é volume morto?
O
volume morto corresponde à parcela do volume total do reservatório inativa ou
indisponível para fins de captação de água (Figura 9). Corresponde ao volume do
reservatório compreendido abaixo do nível de água mínimo (Lopes; Santos, 2002).
No
fundo do reservatório situa-se o volume morto de armazenamento. Tal volume tem
por objetivo armazenar os sólidos sedimentados no reservatório. O dimensionamento
da barragem deve levar em conta a geração de sólidos na bacia de contribuição à
montante do maciço (Moraes; Silva e Silva, 2013).
Figura 9 – Volumes de uma barragem. Fonte: Moraes;
Silva e Silva (2013)
Qual a composição do volume morto?
O volume morto dos reservatórios pode conter, entre
outros elementos:
·
Materiais sólidos
orgânicos ou inorgânicos sedimentados;
·
Matéria orgânica
decomposta;
·
Processos
anaeróbios;
·
Gases como metano,
ácido sulfídrico e outras substâncias produzidas por processo anaeróbio;
·
Metais pesados do
próprio solo carreados pelas chuvas;
·
Etc.
Os
sedimentos
Os sedimentos que
alcançam a barragem e passam pelo vertedouro e condutos, provocam abrasões nas
estruturas, comportas, tubulações, turbinas e outras peças (Carvalho et al., 2000).
Esses depósitos
causam diferentes impactos ou consequências. Os depósitos de remanso criam
problemas de enchentes a montante.
Os depósitos do interior do lago causam a redução da
capacidade de armazenamento do reservatório.
Os impactos
ambientais
A utilização do volume morto dos reservatórios podem
provocar impactos ambientais, tanto à montante como a jusante da barragem,
dependendo para onde é direcionado. Podemos destacar as seguintes consequências
da utilização do volume morto em ambientes aquáticos:
a) Sólidos totais
- Assoreamento de ambientes aquáticos à jusante
(enchentes);
- Soterramento de ovos, invertebrados e peixes;
- Aumento da turbidez da água.
b) Matéria orgânica
- Redução do oxigênio dissolvido (decomposição bacteriana
aeróbia);
- Maus odores (decomposição bacteriana anaeróbia).
c) Microrganismos patogênicos
- Transmissão de doenças ao homem.
d) Nutrientes
- Eutrofização da água.
e) Compostos tóxicos
- Danos à saúde humana;
- Danos aos animais aquáticos.
f) Cor na água
- Redução da transparência da água;
- Diminuição da atividade fotossintética;
- Redução do oxigênio dissolvido;
- Prejuízos à vida aquática.
Dentre os problemas
que o assoreamento (sedimentos) do lago pode provocar, além da redução
significativa da vida útil dos barramentos, pode-se citar (Moraes; Silva e
Silva, 2013):
a) Eutrofização do lago por conter uma quantidade
significativa de nutrientes;
b) Mortalidade da vida aquática existente naquele
ambiente pela redução de oxigênio;
c) Aumento da liberação de gases do efeito estufa para
atmosfera pelo processo anaeróbio;
d) Deterioração da qualidade da água à jusante do
reservatório por ser uma água bruta de baixa qualidade;
e) Redução da capacidade de amortecimento das ondas de
cheia, uma vez que os sedimentos ocupam o espaço que a água deveria ocupar no
reservatório;
f)
Problemas
estruturais no maciço devido à abrasão ou mesmo quando seu peso é exercido
sobre o barramento.
A utilização
do volume morto do Cantareira
A data do inicio da utilização do volume morto do
sistema Cantareira foi em 16/05/2014, com um custo de equipamentos de recalque
na ordem de R$ 80 milhões.
Com a utilização do volume morto, houve uma
ampliação do volume disponível ( útil + morto) na ordem de 256 milhões de m3
de água, aumentando o índice para 22,1% (SABESP, 2014).
Esse volume, com a utilização de 33 mil litros de
água por segundo, é uma “reserva” para 2,5 meses, uma vez que é retirado a cada
mês, somente para a RMSP, um volume na ordem de 100 milhões de m3.
Como houve diminuição do volume retirado por imposição da Agência Nacional das
Águas (ANA) e por estarmos entrando no período de inverno, e há uma diminuição
natural no consumo por parte da população nessa época, a utilização do volume
disponível pode perdurar por 4 ou mesmo 5 meses.
Impacto
à saúde pública
O
volume morto possui uma grande quantidade de sedimentos, formando lodo no fundo
do reservatório. Este lodo pode conter uma quantidade considerável de metais
pesados, assim como microrganismos patogênicos. Por não receber luz solar e por
se anoxo, produz, por processo anaeróbio, CO2, minerais (S, P, K,
etc), nitritos e nitratos, gás metano e ácido sulfídrico e outros.
A
cloração da água que possui gás metano, amônia e outras substâncias podem potencializar
reações químicas e biológicas dando origem a varias substâncias, tais como:
cloraminas, trihalometanos, dicloro, dióxido de cloro, chrorite, bromato etc., que
podem ser causadores desde anemia a câncer quando em exposição a longo prazo,
como consta a tabela da EPA (Agência Ambiental dos Estados Unidos).
A
qualidade das águas naturais, dependendo dos processos antrópicos em seu
entorno podem receber vários tipos de compostos orgânicos provenientes de
agrotóxicos e compostos inorgânicos provenientes de atividades agroindustriais,
como por exemplo: cianeto, fluoreto, alaclor, atrazina, carbofuran e outros.
A
utilização do volume morto e a “reserva técnica”
O que significa reserva (Ferreira, 1988)?
Reserva significa “Ato ou efeito de reservar” e “Aquilo que
se reserva ou guarda para circunstâncias imprevistas”.
Portanto, não existe a tal “reserva técnica” tão falada pelo
Governo do Estado de São Paulo. O volume morto faz parte do projeto de qualquer
reservatório ou barragem que tem uma única finalidade: a de receber os
sedimentos que chegam até o reservatório protegendo a barragem e os
vertedouros.
A
responsabilidade
A Sabesp é a responsável pela operação do sistema, tendo sido outorgada pela
ANA/DAEE em 2004, por 10 anos, vazão de 31m³/s para RMSP e de 5 m³/s para a
bacia do Piracicaba; sendo que em condições de escassez, vazão 24,8 m³/s para
São Paulo e 3 m³/s para a bacia do Piracicaba (CIESP e FIESP, 2014).
A
declaração de Dublin sobre recursos hídricos e desenvolvimento (1992)
Princípios básicos da Declaração de Dublin:
·
A água doce é um
recurso finito e vulnerável, essencial para a conservação da vida, a manutenção
do desenvolvimento e do meio ambiente.
·
O desenvolvimento e
a gestão da água devem ser baseados em participação dos usuários, dos
planejadores e dos decisores políticos, em todos os níveis (municipal, estadual
e federal).
·
A água tem valor
econômico em todos os seus usos competitivos; deve-se promover sua conservação
e proteção.
·
A saúde e o
bem-estar do homem, a garantia de alimentos, o desenvolvimento industrial e o
equilíbrio dos ecossistemas, estarão sob risco se a gestão da água e do solo
não se tornar realidade.
Portanto, a gestão da
água deve ter, além do Governo do Estado e de seus tecnocratas, a sociedade
civil. Ou seja: é necessário democratizar e não politizar a gestão da água na
prática e não somente no papel.
Obrigado!!
Prof.
Me. Claudionor Alves da Santa Rosa
e-mail:
csrrosa@terra.com.br
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