segunda-feira, 22 de julho de 2013

A necessidade de estudos de degradação das águas no Brasil e no mundo para tomada de decisões

Do total de volumes estocados de água nos reservatórios da Terra, somente 2,5% são de água doce, dos quais, 68,9% formam as calotas polares, as geleiras e neves eternas que cobrem os cumes das montanhas mais altas da Terra; 29,9% constituem as águas subterrâneas doces; a umidade dos solos (inclusive daqueles gelados – permafrost) e as águas dos pântanos representam cerca de 0,9% e a água doce dos rios e lagos cerca de 0,3%. Os volumes de água nas calhas dos rios e lagos de água doce somam cerca de 200 mil km3, sendo esses mananciais os mais acessíveis e utilizados para atendimento das necessidades sociais e econômicas da humanidade e vitais aos ecossistemas (REBOUÇAS, 2006).

 O Brasil possui extensas redes fluviais passíveis de utilização, correspondendo a aproximadamente 18% do potencial hídrico superficial utilizável do planeta. A maior parte da água disponível para uso está concentrada nas regiões Norte e Centro-Oeste, com cerca de 89% das águas superficiais do país. No entanto, as duas regiões abrigam apenas 14,5% da população, com um consumo médio em torno de 9,2% da demanda hídrica nacional. Os 11% restantes do potencial hídrico superficial do país estão distribuídos entre os 85,5% da população, correspondente a 90,8% da demanda de água do Brasil (MOTTA, 1997 apud CARNEIRO; PEGORINI; ANDREOLI, 2005). 
Os constituintes das águas derivam de ambientes naturais e antrópicos onde se originam, circulam, percolam ou ficam estocados (REBOUÇAS, 2006). Com a crescente poluição e contaminação das águas superficiais, causada principalmente pelo lançamento direto e indireto de efluentes industriais e domésticos e agropecuários não tratados e/ou insuficientemente tratados, provocando modificações negativas do seu estado biológico, químico e físico, resulta, em muitas regiões, a falta de água de boa qualidade para utilização pelos seres vivos, produção de alimentos e outros usos indispensáveis à vida (AZEVEDO NETTO, 1975; KNIE; LOPES, 2004; BRANCO; AZEVEDO; TUNDINI, 2006).
No Brasil, os mananciais apresentam uma crescente e progressiva deterioração quanto à qualidade de suas águas, comprometendo a disponibilidade hídrica em condição de utilização para fornecimento à população (CARNEIRO; PEGORINI; ANDREOLI, 2005), o que vem provocando estresse hídrico, principalmente em regiões de grande concentração populacional, como as regiões metropolitanas (RIBEIRO, 2010), basicamente em função de dois fatores: necessidade nacional de aglutinação de grandes forças de desenvolvimento, que resultem na formação de aglomerado urbano com planejamento; e, a implantação de obras de infra-estrutura física compatível com o ritmo do crescimento demográfico e industrial, requerida para o saneamento do meio ambiente e conservação dos recursos hídricos naturais (CETESB, 1982).
O Estado de São Paulo, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE, ultrapassou os 40 milhões de habitantes; sua capital, o município de São Paulo, os 11 milhões de habitantes e a Região Metropolitana de São Paulo-RMSP, maior e mais populoso aglomerado urbano do País e um dos cinco maiores do Mundo, composta por 39 municípios, concentra quase 20 milhões de habitantes; ou seja, cerca de 10% da população nacional ocupando cerca de 0,1% do território brasileiro (RIBEIRO, 2010).
O Consumo de água na RMSP está em torno de 67,7 m3 a cada segundo, dos quais 31 m3/s são importados da Bacia do rio Piracicaba, localizado ao norte da Bacia do Alto Tietê, 2 m3/s de outras reversões menores dos rios Capivari e Guaratuba, o que atende 99% da população da Bacia. A Bacia consome ainda 2,6 m3/s para irrigação e a demanda industrial é parcialmente atendida pela rede pública (15% do total distribuído) e parte por abastecimento próprio através de captações e extração de água subterrânea (FUSP, 2009).  
A partir dos meados do século XX, o Brasil se transformou de um país agrário em um país urbanizado. Em 1950, 63% da população viviam na zona rural; ou seja, cerca de 33 milhões; e o restante, 19 milhões, vivendo nas cidades; ao passo que, em 2010, conforme IBGE (2011), a população rural não chegou a 30 milhões, representando cerca de 16% da população brasileira; e o restante, 84%, um pouco mais de 190 milhões, estão vivendo nas cidades. As cidades cresceram e com elas os problemas.
Com o aumento da população humana e dos processos industriais, a necessidade de água aumentou consideravelmente, principalmente nas grandes metrópoles; e as atividades humanas, direta ou indiretamente, estão contribuindo para a diminuição da qualidade das águas, tornando-a imprópria para determinados fins (ABELHO, 2010), contribuindo cada vez mais para o desequilíbrio ecológico dos sistemas naturais, por consequente, a deterioração qualitativa da biosfera na qual vivemos (BRANCO, 1984).
A RMSP, o maior e mais populoso aglomerado urbano do Brasil e um dos cinco maiores do mundo, composta por 39 municípios e com o maior parque industrial e mercado produtivo do país, possui uma baixa disponibilidade hídrica. Mais de 40% da água consumida nessa região é importada da bacia do rio Piracicaba, localizado ao norte da bacia do Alto Tietê, o que deixa claro a importância da conservação de seus mananciais. Uma contradição entre a distribuição das águas no Brasil e a localização das grandes áreas de consumo, crescimento urbano e industrial.
Conforme Giroult (1977), “a qualidade da água portável é um fator de importância capital para garantir a saúde pública, pois, a manutenção da qualidade bacteriológica da água e a luta contra as moléstias transmissíveis de origem hídrica continuam sendo a preocupação cotidiana dos serviços de saneamento, não somente no Brasil, mas em todos os países; presta-se também atenção à luta contra as viroses transmitidas pela água e, principalmente, às relações entre certas enfermidades não-transmissíveis (tais como: câncer, doenças cardiovasculares, toxicações letais etc) e certos compostos ou até mesmo elementos químicos existentes na água potável em quantidades ínfimas.”
Portanto, existe uma necessidade de estudos de tendências de degradação e poluição dos rios brasileiros, e dessa forma, ter parâmetro para se tomar medidas de prevenção e precaução para a conservação e proteção dos mananciais no Brasil, em especial, na RMSP, uma vez que esta comporta a maior concentração populacional e industrial do Brasil com baixa disponibilidade hídrica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Abelho, Manuela. Manual de monitorização microbiológica ambiental: Qualidade microbiológica da água. Lisboa: 2010. [Curso de Especialização Tecnológica em Qualidade Ambiental]. Disponível em http://www.esac.pt/Abelho/Monitor_ambiental/Manual%20parte%202.pdf. Acesso em 13/03/2012.
AZEVEDO NETTO, José Martiniano de. Poluição e desenvolvimento. Revista DAE – Sabesp. São Paulo, SP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp, São Paulo, SP, v.35, n.101, p. 9-57, s.d., 1975.
BRANCO, Samuel Murgel. Limnologia sanitária, estudos de La polucion de águas continentales. Washington, D.C.: Secretaria General de La Organización de lós Estados Americanos; 1984. 121 p.
BRANCO, Samuel Murgel; AZEVEDO, Sandra M.F.O.; TUNDISI, José Galizia. Água e saúde humana. In: REBOUÇAS, Aldo da Cunha.; BRAGA, Benedito.; TUNDISI, José Galizia. Águas Doces no Brasil. São Paulo: Escrituras. 3ª edição. 2006
CARNEIRO, Charles.; PEGORI, Eduardo S.; ANDREOLI, Cleverson Vitório. Gestão tegrada de Mananciais de Abastecimento Eutrofizados: Mananciais de Abastecimento Público. Curitiba: Sanepar. Fep, 2005. 494 p.
CETESB. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Subsídios para uma política de controle de poluição das águas na bacia do rio Cotia: 1982b / CETESB. - São Paulo: CETESB, 1982. 20 p.
FUSP. Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo.Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Relatório Final. Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê: 2009. Volumes 1 a 4. São Paulo, SP, 2009. 934 p. Disponível em http://www.fabhat.org.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=55&Itemid=5. Acesso em 10/10/2012.
GIROULT, E. A qualidade da água potável. Revista DAE – Sabesp. São Paulo, SP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp, São Paulo, SP, n.114, p. 76-78, s.d., 1977.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultado do Censo 2010. 2011. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/ . Acesso em: 01/10/2011
Knie, Joaquim L. W.; LOPES, Ester W. B.. Testes ecotoxicológicos: métodos, técnicas e aplicações. Florianópolis: FATMA/GTZ, 2004. 289 p.
REBOUÇAS, Aldo da C. Água doce no mundo e no Brasil. In: REBOUÇAS, Aldo da C. Águas Doces no Brasil. São Paulo, SP: Escrituras, 2006. 323 p.
RIBEIRO, Wagner Costa. Oferta e estresse hídrico na Região Metropolitana de São Paulo. Estudos Avançados, São Paulo, SP, .v..25 n.71 Jan./Apr. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142011000100009&script=sci_arttext>. Acesso em 20/08/2011