sábado, 28 de setembro de 2013

Estudo: herbicida e milho geneticamente modificado pode causar tumores e a morte prematura (Study: herbicide and genetically modified corn may cause tumors and premature death)

Uma nova pesquisa na França apresentou estudos com o herbicida Roundup e milho geneticamente modificado, os quais, conforme estudos, trás danos em órgãos, surgimento de tumores e morte prematura entre ratos, alertando para uma maior regulamentação dos alimentos geneticamente modificados (GM), entre os defensores da agricultura sustentável.

O estudo, publicado na Food and Chemical Toxicology, descobriu que os ratos que foram expostos ao herbicida Roundup, utilizado para matar ervas daninhas, e os que foram alimentados com milho resistente ao Roundup, desenvolveram tumores mamários, danos nos rins e fígado e morreram mais cedo do que aqueles do grupo de controle (ratos não expostos ao herbicida Roundup e ao milho transgênico).

Segundo os autores, este é o primeiro estudo a examinar os efeitos em longo prazo do milho geneticamente modificado Roundup Ready, ou NK603, que é produzido pela empresa de biotecnologia Monsanto e foi aprovado para uso tanto na União Européia e nos Estados Unidos.

Estudos anteriores examinaram os efeitos do NK603 em animais ao longo de 90 dias, enquanto este estudo analisou um período de dois anos.

"Não foram observados efeitos adversos em um estudo de alimentação de 90 dias em ratos com NK603...", diz o painel Organismos Geneticamente Modificados (OGM) da European Food Safety Authority (EFSA) em seu parecer científico sobre o milho. "O Painel OGM da EFSA é da opinião de que o milho NK603 é tão seguro quanto o milho convencional. Milho NK603 e produtos derivados são improváveis que tenha qualquer efeito adverso sobre a saúde humana e animal no contexto das utilizações previstas."


O estudo francês, no entanto, encontrou uma série de efeitos adversos para a saúde em ratos alimentados com o milho geneticamente modificado.

Neste estudo, conduzido em 100 ratos do sexo feminino e 100 ratos do sexo masculino, os quais receberam o milho resistente ao Roundup, o herbicida Roundup ou ambos. Os animais em todos os três grupos apresentaram efeitos adversos para a saúde e morreram antes que os ratos do grupo de controle que receberam milho normal e água.

"Os resultados foram realmente alarmante", disse o professor Gilles - Eric Seralini, co-diretor de qualidade de risco e da Unidade de Meio Ambiente Sustentável da Universidade de Caen na França e principal pesquisador do estudo. Tumores mamários começaram a aparecer nas fêmeas após 4 meses, disse ele, e "depois de um ano, houve um grande aumento do número de tipos de tumores. Quase todos os ratos do sexo feminino tiveram dois ou três tumores", afirmou Seralini em uma conferência de imprensa.

Até 50% dos machos e 70% das fêmeas alimentados com milho GM morreram antes que suas mortes poderiam ser atribuídas ao envelhecimento normal, em comparação com 30% dos machos e 20% de fêmeas no grupo de controle, que morreram prematuramente.

Tumores cresceram mais freqüentemente e rapidamente entre a maioria dos grupos de teste do que entre o grupo de controle. Após 23 meses, entre 50% a 80% dos ratos fêmeas tratadas (dependendo do grupo) desenvolveram tumores, enquanto que 30% dos ratos de controle fêmea tinham tumores. O grupo tratado com Roundup apresentou a maior incidência de tumores. Das fêmeas deste grupo, 80%, pelo menos, desenvolveram um e até três tumores.

Os machos tratados desenvolveram tumores em grande parte em seus rins e na pele, e tinham duas vezes mais probabilidade de ter um tumor durante um mês do que os machos do grupo de controle.

"Os resultados dos estudos aqui apresentados demonstram claramente que os níveis mais baixos de formulações agrícolas do herbicida glifosato (como Roundup), em concentrações bastantes abaixo dos limites de segurança estabelecidos, induzem perturbações renais graves (dependente dos hormônios da mama) e hepático (fígado)" escreveram os autores.

Em ratos de teste foram administrados doses variadas de Roundup na sua água e milho em sua alimentação. As menores doses administradas no estudo foram menores do que os níveis permitidos tanto na União Européia e nos EUA, de acordo com o estudo.

Animais de laboratório experimentaram graves efeitos adversos à saúde, mesmo aos níveis baixos administrados. Os autores dizem que este resultado sugere que ambos os produtos causem um desequilíbrio hormonal.

"Nossos dados mostram que, como é frequente casos de doenças hormonais, a maioria dos efeitos observados neste estudo não foram proporcionais à dose do tratamento."

"Isto implica que, tanto o NK603 e Roundup, podem causar perturbações hormonais no mesmo caminho bioquímico e fisiológico", conclui o estudo.

O fato dos grupos tratados somente com o milho transgênico reagirem de maneira semelhante com os tratados apenas com o herbicida, foi surpreendente, diz Seralini.

"Nós estávamos realmente interessado pelos resultados OGM que não foram tratados com Roundup", disse Seralini. "Os grupos com o OGM, surpreendentemente também tinham disfunções hormonais e havia também tumores mamários".

Depois de uma análise pormenorizada da composição química das dietas dos animais, os investigadores descobriram que, dois compostos em plantas, que protegem os animais contra os tumores mamários e da toxicidade do rim e fígado, foram reduzidos a 51% com o consumo do milho transgênico. Eles concluíram que uma enzima que é sobre-expressa em 80% de OGM, estava causando esse efeito, explica Seralini.

Estima-se que 70% do milho cultivado nos EUA é Roundup Ready.

De acordo com a avaliação da segurança da Monsanto, NK603 e o milho no qual o ADN é inserido, é para tornar a planta resistente aos efeitos nocivos de Roundup. Estudos anteriores demonstraram que as proteínas CP4 EPSPS expressa no milho Roundup Ready não produzem toxicidade em ratos, nem eles são semelhantes aos alérgenos ou toxinas conhecidas, e que são rapidamente digeridas in vitro.

Tom Sanders, chefe da divisão de pesquisa de ciências da nutrição no King College London, expressaram preocupação com os métodos utilizados no estudo francês.

"Essa cepa de rato é muito propensa a tumores mamários especialmente quando a ingestão de alimentos não é restrita”, disse Tom Sanders, chefe da divisão de ciências da pesquisa nutricional do Kings College London na agência de notícias Reuters. "Os métodos estatísticos são pouco convencional e, ao que parece, os autores passaram em uma viagem de pesca estatística."

Chamado à Ação

Os autores do estudo, juntamente com a Sustainable Food Trust, um grupo global sem fins lucrativos que promove a agricultura sustentável, dizem que estes resultados destacam a necessidade de fiscalizar mais ainda a aprovação e comercialização de alimentos geneticamente modificados em todo o mundo. A ONG afirmou o seguinte em um comunicado de imprensa:

À luz destes resultados, o Sustainable Food Trust vê o apelo à ação como:

- Uma revisão da precaução do quadro regulamentar para testes com pesticidas e alimentos GM;

- A exigência de que os alimentos que contenham ingredientes geneticamente modificados ou seus derivados, ou de animais alimentados com uma dieta GM, devem ser claramente identificados;

- Realização de mais pesquisas independentes explorando os potenciais efeitos na saúde humana do consumo destes produtos.

O fato de que os alimentos transgênicos não são rotulados nos EUA, estão, "em minha opinião, um problema muito grave", disse Seralini, durante a conferência de imprensa. Os consumidores devem ter a liberdade de saber o que está em seus alimentos, diz ele.

"Na Europa temos essa rotulagem e permite-nos evitar esses compostos, se necessário", disse ele.

Este estudo já tem proposta na Califórnia para definir em votação sobre se deve ou não impor rótulos de transgênicos, o que vai ocorrer e estarão na cédula de votação como Proposição 37.

"Os resultados deste estudo são preocupantes", disse Campaign Manager Gary Ruskin, a respeito da Proposição 37 na Califórnia do Direito de Saber, em um comunicado: "Eles ressaltam a importância de dar o direito às famílias na Califórnia de saber se o alimento é geneticamente modificado, e decidir por nós mesmos se quiser jogar com a nossa saúde pela ingestão de alimentos transgênicos que não foram adequadamente estudados e não foi comprovadamente seguro."

Seralini diz que os resultados de sua pesquisa apontam também para a necessidade de testar os efeitos dos OGM durante dois anos - a média de vida de um rato - ao invés de 90 dias, desde que os tumores encontrados neste estudo apareceram depois de quatro meses.

Ele também recomenda que o governo dos EUA confie menos nos testes da empresa na tomada de decisões regulatórias sobre os produtos da empresa.

O estudo foi apoiado pela organização de pesquisa independente, Comité de Recherche et d'Information Indépendantes sur le génie GENétique (CRIIGEN) e foi publicado na Food and Chemical Toxicology. Ele está disponível no site da Sustainable Food Trust.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A necessidade de estudos de degradação das águas no Brasil e no mundo para tomada de decisões

Do total de volumes estocados de água nos reservatórios da Terra, somente 2,5% são de água doce, dos quais, 68,9% formam as calotas polares, as geleiras e neves eternas que cobrem os cumes das montanhas mais altas da Terra; 29,9% constituem as águas subterrâneas doces; a umidade dos solos (inclusive daqueles gelados – permafrost) e as águas dos pântanos representam cerca de 0,9% e a água doce dos rios e lagos cerca de 0,3%. Os volumes de água nas calhas dos rios e lagos de água doce somam cerca de 200 mil km3, sendo esses mananciais os mais acessíveis e utilizados para atendimento das necessidades sociais e econômicas da humanidade e vitais aos ecossistemas (REBOUÇAS, 2006).

 O Brasil possui extensas redes fluviais passíveis de utilização, correspondendo a aproximadamente 18% do potencial hídrico superficial utilizável do planeta. A maior parte da água disponível para uso está concentrada nas regiões Norte e Centro-Oeste, com cerca de 89% das águas superficiais do país. No entanto, as duas regiões abrigam apenas 14,5% da população, com um consumo médio em torno de 9,2% da demanda hídrica nacional. Os 11% restantes do potencial hídrico superficial do país estão distribuídos entre os 85,5% da população, correspondente a 90,8% da demanda de água do Brasil (MOTTA, 1997 apud CARNEIRO; PEGORINI; ANDREOLI, 2005). 
Os constituintes das águas derivam de ambientes naturais e antrópicos onde se originam, circulam, percolam ou ficam estocados (REBOUÇAS, 2006). Com a crescente poluição e contaminação das águas superficiais, causada principalmente pelo lançamento direto e indireto de efluentes industriais e domésticos e agropecuários não tratados e/ou insuficientemente tratados, provocando modificações negativas do seu estado biológico, químico e físico, resulta, em muitas regiões, a falta de água de boa qualidade para utilização pelos seres vivos, produção de alimentos e outros usos indispensáveis à vida (AZEVEDO NETTO, 1975; KNIE; LOPES, 2004; BRANCO; AZEVEDO; TUNDINI, 2006).
No Brasil, os mananciais apresentam uma crescente e progressiva deterioração quanto à qualidade de suas águas, comprometendo a disponibilidade hídrica em condição de utilização para fornecimento à população (CARNEIRO; PEGORINI; ANDREOLI, 2005), o que vem provocando estresse hídrico, principalmente em regiões de grande concentração populacional, como as regiões metropolitanas (RIBEIRO, 2010), basicamente em função de dois fatores: necessidade nacional de aglutinação de grandes forças de desenvolvimento, que resultem na formação de aglomerado urbano com planejamento; e, a implantação de obras de infra-estrutura física compatível com o ritmo do crescimento demográfico e industrial, requerida para o saneamento do meio ambiente e conservação dos recursos hídricos naturais (CETESB, 1982).
O Estado de São Paulo, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE, ultrapassou os 40 milhões de habitantes; sua capital, o município de São Paulo, os 11 milhões de habitantes e a Região Metropolitana de São Paulo-RMSP, maior e mais populoso aglomerado urbano do País e um dos cinco maiores do Mundo, composta por 39 municípios, concentra quase 20 milhões de habitantes; ou seja, cerca de 10% da população nacional ocupando cerca de 0,1% do território brasileiro (RIBEIRO, 2010).
O Consumo de água na RMSP está em torno de 67,7 m3 a cada segundo, dos quais 31 m3/s são importados da Bacia do rio Piracicaba, localizado ao norte da Bacia do Alto Tietê, 2 m3/s de outras reversões menores dos rios Capivari e Guaratuba, o que atende 99% da população da Bacia. A Bacia consome ainda 2,6 m3/s para irrigação e a demanda industrial é parcialmente atendida pela rede pública (15% do total distribuído) e parte por abastecimento próprio através de captações e extração de água subterrânea (FUSP, 2009).  
A partir dos meados do século XX, o Brasil se transformou de um país agrário em um país urbanizado. Em 1950, 63% da população viviam na zona rural; ou seja, cerca de 33 milhões; e o restante, 19 milhões, vivendo nas cidades; ao passo que, em 2010, conforme IBGE (2011), a população rural não chegou a 30 milhões, representando cerca de 16% da população brasileira; e o restante, 84%, um pouco mais de 190 milhões, estão vivendo nas cidades. As cidades cresceram e com elas os problemas.
Com o aumento da população humana e dos processos industriais, a necessidade de água aumentou consideravelmente, principalmente nas grandes metrópoles; e as atividades humanas, direta ou indiretamente, estão contribuindo para a diminuição da qualidade das águas, tornando-a imprópria para determinados fins (ABELHO, 2010), contribuindo cada vez mais para o desequilíbrio ecológico dos sistemas naturais, por consequente, a deterioração qualitativa da biosfera na qual vivemos (BRANCO, 1984).
A RMSP, o maior e mais populoso aglomerado urbano do Brasil e um dos cinco maiores do mundo, composta por 39 municípios e com o maior parque industrial e mercado produtivo do país, possui uma baixa disponibilidade hídrica. Mais de 40% da água consumida nessa região é importada da bacia do rio Piracicaba, localizado ao norte da bacia do Alto Tietê, o que deixa claro a importância da conservação de seus mananciais. Uma contradição entre a distribuição das águas no Brasil e a localização das grandes áreas de consumo, crescimento urbano e industrial.
Conforme Giroult (1977), “a qualidade da água portável é um fator de importância capital para garantir a saúde pública, pois, a manutenção da qualidade bacteriológica da água e a luta contra as moléstias transmissíveis de origem hídrica continuam sendo a preocupação cotidiana dos serviços de saneamento, não somente no Brasil, mas em todos os países; presta-se também atenção à luta contra as viroses transmitidas pela água e, principalmente, às relações entre certas enfermidades não-transmissíveis (tais como: câncer, doenças cardiovasculares, toxicações letais etc) e certos compostos ou até mesmo elementos químicos existentes na água potável em quantidades ínfimas.”
Portanto, existe uma necessidade de estudos de tendências de degradação e poluição dos rios brasileiros, e dessa forma, ter parâmetro para se tomar medidas de prevenção e precaução para a conservação e proteção dos mananciais no Brasil, em especial, na RMSP, uma vez que esta comporta a maior concentração populacional e industrial do Brasil com baixa disponibilidade hídrica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Abelho, Manuela. Manual de monitorização microbiológica ambiental: Qualidade microbiológica da água. Lisboa: 2010. [Curso de Especialização Tecnológica em Qualidade Ambiental]. Disponível em http://www.esac.pt/Abelho/Monitor_ambiental/Manual%20parte%202.pdf. Acesso em 13/03/2012.
AZEVEDO NETTO, José Martiniano de. Poluição e desenvolvimento. Revista DAE – Sabesp. São Paulo, SP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp, São Paulo, SP, v.35, n.101, p. 9-57, s.d., 1975.
BRANCO, Samuel Murgel. Limnologia sanitária, estudos de La polucion de águas continentales. Washington, D.C.: Secretaria General de La Organización de lós Estados Americanos; 1984. 121 p.
BRANCO, Samuel Murgel; AZEVEDO, Sandra M.F.O.; TUNDISI, José Galizia. Água e saúde humana. In: REBOUÇAS, Aldo da Cunha.; BRAGA, Benedito.; TUNDISI, José Galizia. Águas Doces no Brasil. São Paulo: Escrituras. 3ª edição. 2006
CARNEIRO, Charles.; PEGORI, Eduardo S.; ANDREOLI, Cleverson Vitório. Gestão tegrada de Mananciais de Abastecimento Eutrofizados: Mananciais de Abastecimento Público. Curitiba: Sanepar. Fep, 2005. 494 p.
CETESB. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Subsídios para uma política de controle de poluição das águas na bacia do rio Cotia: 1982b / CETESB. - São Paulo: CETESB, 1982. 20 p.
FUSP. Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo.Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Relatório Final. Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê: 2009. Volumes 1 a 4. São Paulo, SP, 2009. 934 p. Disponível em http://www.fabhat.org.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=55&Itemid=5. Acesso em 10/10/2012.
GIROULT, E. A qualidade da água potável. Revista DAE – Sabesp. São Paulo, SP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp, São Paulo, SP, n.114, p. 76-78, s.d., 1977.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultado do Censo 2010. 2011. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/ . Acesso em: 01/10/2011
Knie, Joaquim L. W.; LOPES, Ester W. B.. Testes ecotoxicológicos: métodos, técnicas e aplicações. Florianópolis: FATMA/GTZ, 2004. 289 p.
REBOUÇAS, Aldo da C. Água doce no mundo e no Brasil. In: REBOUÇAS, Aldo da C. Águas Doces no Brasil. São Paulo, SP: Escrituras, 2006. 323 p.
RIBEIRO, Wagner Costa. Oferta e estresse hídrico na Região Metropolitana de São Paulo. Estudos Avançados, São Paulo, SP, .v..25 n.71 Jan./Apr. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142011000100009&script=sci_arttext>. Acesso em 20/08/2011